⚠️Uma CASA PREPARADA nunca está pronta!
Como a casa pode acompanhar o crescimento das crianças — e por que revisar o ambiente é um gesto de cuidado, empatia e respeito.
Se você já está comigo no @ambientepreparado há mais tempo, já deve ter ouvido - ou lido - eu dizer muitas vezes que o ambiente [verdadeiramente] preparado nunca está pronto. E eu, particularmente, acho isso IN-CRÍ-VEL!
Hoje, quero te contar o porquê.
A imagem mais comum que temos da arquitetura é a de algo finalizado: planta aprovada, obra concluída, casa entregue.
Mas eu, enquanto Arquiteta das Infâncias - — e alguém que acredita que a casa pode materializar nossa identidade e expressar quem somos — penso um pouco diferente: a casa nunca está, de fato, finalizada.
Nós estamos sempre mudando, e a casa pode nos acompanhar nesse movimento. Nossos gostos, interesses e preferências evoluem: mudamos de cor preferida, descobrimos novos estilos decorativos, visitamos mais exposições, assistimos a filmes que nos inspiram, lemos livros que nos transformam. Tudo isso molda a forma como habitamos o mundo.
Por isso, acredito que a casa está sempre em construção — ao mesmo tempo em que nós também estamos nos construindo como indivíduos.
A gente constrói a casa, enquanto a casa também
nos ajuda a construir quem somos.
Nesse sentido, quando pensamos em uma casa que acolhe uma criança em crescimento, essa imagem flexível faz mais sentido — porque ali, tudo está em constante transformação.
A infância não é linear — ela pulsa, se expande, muda de forma.
E a casa, para estar à altura dessa experiência, precisa ser capaz de se transformar junto.
Porque crescer é movimento — e morar também pode ser.
Por isso, gosto de dizer que uma CASA PREPARADA é um organismo vivo.
Ela reflete quem a habita.
Ela cresce, se adapta, responde às demandas.
Ela não tem “antes x depois” como ponto de chegada.
Ela tem o “durante”: tem o cuidado contínuo como percurso.
Por que revisar o ambiente?
Porque a criança muda.
Nos primeiros anos de vida, o corpo cresce, os interesses se reorganizam, as habilidades se multiplicam.
Pesquisas em neurodesenvolvimento indicam que, nos primeiros mil dias, o cérebro humano está em seu pico de plasticidade. Isso significa que as experiências vividas — inclusive as espaciais — têm impacto profundo e duradouro.
Mas não precisamos de dados para perceber o quanto o ambiente interfere.
Basta observar:
– Quando a criança tenta alcançar algo e não consegue;
– Quando ela começa a andar, mas tropeça nos excessos do chão;
– Quando começa a desenhar, mas os lápis estão desapontados
– Quando pede por fazer por si mesma, mas tudo ao seu redor exige a mediação do adulto.
Tudo isso são sinais de que o espaço precisa ser readequado.
A preparação da casa, nesse contexto, vira um gesto de cuidado, de empatia, de respeito.
Isso faz sentido para você?!
Como identificar a hora de readequar?
observação constante. Você pode se perguntar:
– O que a criança tenta fazer com frequência?
– O que ela demonstra interesse em explorar?
– O que está impedindo sua autonomia?
– Quais respostas às perguntas/interesses/brincadeiras o espaço pode oferecer?
Readequar não exige grandes intervenções.
Muitas vezes, a re-preparação da casa vem de pequenos gestos — afetuosos e atentos — que fazem toda a diferença:
– Descer uma prateleira;
– Mudar um móvel de lugar;
– Liberar uma parede para desenhos;
– Trocar os brinquedos de uma cesta.
Esses pequenos ajustes comunicam à criança que ela é reconhecida em sua fase atual — e isso fortalece sua autoestima, autonomia e segurança emocional.
Como colocar em prática?
Não há uma ciência exata no que se trata de desenvolvimento infantil, por isso é tão importante observar atentamente a criança que você tem em casa! Mas, de forma sintética, as necessidades da primeira infância giram em torno de algumas necessidades genéricas. Aqui uma lista que pode te ajudar:
0 a 6 meses: bebê passa mais tempo deitado, precisa de espaço livre no chão, móbiles, imagens de constraste, espelho baixo.
6 a 12 meses: o bebê começa a rolar, engatinhar; precisa de estímulos ao alcance, menos obstáculos, mobiliário estável para se apoiar.
1 a 2 anos: a criança pequena anda e explora, e precisa de acesso seguro a utensílios do cotidiano, brinquedos organizados por tipo para que a criança sabe onde encontrar o que precisa.
2 a 3 anos: as brincadeiras simbólicas emergem. O espaço para faz de conta, materiais criativos, autonomia [especialmente] no autocuidado, no banheiro e na hora das refeições.
3 a 5 anos: a criança anseia por participar mais da rotina. Preveja prateleiras na cozinha, responsabilidades coerentes com a maturidade da criança, um espaço para leitura e produções artísticas.
5+ anos: a criança começa a expressar preferências pessoais sobre o espaço. Envolver a criança nas decisões sobre organização e decoração passa a ser fundamental!!!
Viu só como - com pequenas atitudes - o espaço pode colaborar e favorecer o desenvolvimento das crianças?
Enquanto cuidadores, precisamos deixar de lado a ideia de que a casa tem um ponto final.
O espaço da infância é um espaço que muda.
E cuidar desse espaço é também uma forma de cuidar da própria criança.
Em resumo:
Uma CASA PREPARADA é aquela que escuta.
Uma CASA PREPARADA é aquela que erra, testa, reorganiza [mas não se estagna]
Uma CASA PREPARADA é aquela que se propõe a ser viva — assim como quem mora nela.
Por isso, digo [e repito] com alegria: uma Casa Preparada nunca está pronta — e isso é mesmo INCRÍVEL! 🩶
Se puder, me responda este e-mail — e me conte: qual transformação você sente que está por vir para que SUA CASA esteja [verdadeiramente] PREPARADA para SUA CRIANÇA? Vou adorar saber!
Ah, este texto foi inspirado no áudio da semana da🎙 Rádio @ambientepreparado: PILAR 05 — Ambiente Preparado Nunca Está Pronto.
Aproveite para maratonar os áudios dos primeiros cinco pilares — e muitos outros ainda virão. É conteúdo prático, inspirador e feito com carinho: do jeitinho que eu amo criar e sei que você ama receber! E fica tranquila: nossos números não ficam visíveis para os participantes, tá? 🎙
Este texto foi escrito com amor, dedicação e afeto.
Sou grata por sua escuta e pelo seu tempo.
🩶
Um beijo!
Audrey Migliani
Mãe da Rebeca | Arquiteta (PhD) no Escritório do Ambiente Preparado
Fundadora do Ambiente Preparado | Curadora no @nabibliotecadarebeca
Pesquisadora de Espaços Inclusivos para as Infâncias | Guia Assistente Montessori (3-6)
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